Marcelo Boeger.
Quando ouço alguém que está dentro de um elevador de algum condomínio residencial dizer gentilmente para quem está do lado de fora: “Pode entrar, sem frescuras, eu não tenho Covid”. Apesar da gentileza, a pessoa não está considerando que o risco existe para os dois lados. Sim, mas e se eu que estou entrando no elevador estiver doente? E se eu estiver indo justamente ao hospital me internar ou fazer o exame naquele momento? Posso entrar mesmo assim? E se nós somos assintomáticos? Então tudo bem?
Vale a pena correr esse risco com os números crescentes que
acompanhamos diariamente? Claro que não! Mas seguramente ouviremos a partir de agora: “Estou vacinado, posso ‘aglomerar’, não preciso mais de distanciamento, nem usar máscaras e nem higienizar as mãos ou usar álcool 70”.
Um pensamento perigoso e equivocado. Queremos a busca de uma
resposta simplista para um problema complexo. Quero a mudança,
mas não quero ser mudado.
Sabemos ainda muito pouco sobre a doença, suas variantes, sobre
a imunização daqueles que já tiveram Covid, seus efeitos a longo
prazo e até mesmo sobre os resultados da vacina até a data em que
realmente se alcance o tal do efeito “rebanho”. Trabalho para hospitais há mais de 20 anos apoiando equipes operacionais. E sempre que temos um paciente em “precaução de contato” ou mesmo muito debilitado, toda equipe que tem contato com ele utiliza máscaras e toda precaução,
conforme o tipo de isolamento ou aquilo que chamamos de IRAS –
infecções relacionadas à assistência à saúde. É um protocolo importante para preservar a equipe e o paciente e seus familiares.
Em muitos casos não utilizamos somente para “nos proteger do paciente”, mas para proteger um paciente com saúde frágil da nossa presença no mesmo ambiente. Seja para a realização de algum procedimento técnico, mas mesmo para limpar o quarto, levar a bandeja de alimentos ou realizar uma manutenção no quarto. E esse mesmo pensamento vale para o convívio e a coexistência atual – regras de etiqueta sanitária dentro e fora do hospital:
todos protegendo todos.
No mundo de hoje, temos que assumir que todos são potenciais
transmissores da Covid-19. E, dessa forma, devemos utilizar a máscara, para nós e pelos outros. No caso da Covid, como a transmissão pode ser feita por meio de fluidos, gotículas e contato com superfícies contaminadas, as pessoas precisam se conscientizar de que o EPI é uma importante forma de reduzir os riscos para si para, para sua própria família e pessoas a sua volta. Chegou a hora de uma importante mudança de modelo mental
sobre segurança e saúde: gerar segurança para outros é uma consequência de estar seguro. Temos de perceber que quando não me protejo não estou apenas me expondo, mas expondo a todos que me cercam. Infelizmente, a ideia no senso comum que ainda prevalece é a de que o uso desses EPIs existe somente para proteger o próprio usuário.
Não podemos esquecer que nossos hábitos afetam também a todos os outros a nossa volta. Você iria pular de um avião sem um paraquedas? Para realmente retomar as atividades de trabalho e lazer de forma segura, o modelo mental deve privilegiar também o cuidado com os “outros”– e isso vale para a máscara, para a lavagem das mãos, o uso do álcool gel incluindo até mesmo pelos “já vacinados” até voltarmos ao status de um ambiente seguro.
Marcelo Boeger
Vice-presidente da Associação Mundial de Turismo de Saúde e Bem-Estar (AMTSBE), escritor; atua como sócio consultor da Hospitallidade Consultoria
Texto esclarecedor, pertinente para o momento que vivemos. Realmente, ouve-se muito pessoas dizendo, pode entrar, não tenho Covid. Mas como se pode afirmar que não? Todo cuidado é pouco, em especial tb, porque não sabemos se a vacina será mesmo eficaz, tendo em vista não ter passado por todas fases de testes. Como diz o texto, pouco se sabe sobre esta doença, suas variantes e efeitos a longo prazo.