União de Amazon, Buffett e JPMorgan pode revolucionar planos de saúde

DO “FINANCIAL TIMES”

Amazon, Berkshire Hathaway e JPMorgan Chase anunciaram planos para criar uma companhia sem fins lucrativos no setor de saúde, a fim de reduzir os custos dos planos que oferecem ao seu quase 1 milhão de empregados.

A revelação causou uma onda de vendas de ações das operadoras comerciais de planos de saúde.

O anúncio feito pelas três empresas não trouxe muitos detalhes e afirmou que o foco inicial do novo empreendimento seriam “soluções de tecnologia” para oferecer aos seus trabalhadores nos Estados Unidos, e às famílias destes, “planos de saúde simplificados, transparentes e de alta qualidade, a custo razoável”.

“As três companhias, cuja escala e conhecimentos especializados complementares contribuirão para esse esforço de longo prazo, buscarão esse objetivo por meio de uma empresa independente que não terá a busca do lucro como incentivo ou restrição”, afirmaram as empresas em comunicado conjunto.

As ações da UnitedHealth, a maior empresa de planos de saúde dos Estados Unidos, caíram 6,75% antes da abertura do pregão da Bolsa de Nova York, enquanto as das rivais Anthem, Aetna, Cigna e Humana registravam quedas de entre 3% e 7%.

A Express Scripts, cadeia de drogarias que fornece medicamentos a mutuários de planos de saúde, e a CVS Health, rede de drogarias que opera uma subsidiária voltada a esse segmento, a Caremark, registraram queda de 6,5% em suas ações.

Uma pessoa que foi informada recentemente sobre os planos da Amazon disse que a joint venture se concentraria inicialmente em usar software e apps para ajudar os trabalhadores a reduzir seus custos de saúde,

Por exemplo, se um médico receitar um remédio caro e de marca, um app instalado no smartphone do usuário enviaria uma notificação que o alertaria sobre a disponibilidade de uma alternativa genérica mais barata.

No entanto, a pessoa disse que o esforço seria um prelúdio para uma empreitada mais ampla, que veria as três empresas optando por operar por sua conta os planos de saúde de seu pessoal, sem fins lucrativos. Mais empresas seriam convidadas a aderir à iniciativa no futuro, acrescentou a fonte.

Se a Amazon e seus parceiros montarem uma operadora de planos de saúde sem fins lucrativos para seus 950 mil empregados e dependentes, isso representaria uma das maiores reacomodações no setor em muitos anos.

Operadoras comerciais de planos de saúde como a UnitedHealth e a Cigna correriam o risco de perder centenas de milhares de clientes.

E drogarias que atendem aos beneficiários desses planos de saúde e servem como intermediárias nas negociações com os fabricantes de medicamentos, como a Express Scripts, também poderiam perder parte considerável de seus negócios.

Ainda que algumas grandes empresas, entre as quais as montadoras de automóveis Ford, General Motors e Fiat Chrysler, já banquem seus sistemas de planos de saúde, recebendo as mensalidades pagas pelos trabalhadores e constituindo reservas para potenciais prejuízos, elas tendem a contratar operadoras comerciais de planos de saúde e cadeias de drogarias especializadas para operar seus planos.

ESPECULAÇÕES

A decisão se segue a meses de especulações quanto ao ingresso da Amazon no setor de saúde, que já vinham pesando sobre os preços das ações das empresas de seguro-saúde e das drogarias e farmácias.

Alguns analistas interpretaram a aquisição seguradora Aetna pela CVS, que opera cadeias de farmácias e drogarias —e no Brasil é dona da Onofre— em uma transação de US$ 69 bilhões, anunciada em dezembro, como medida defensiva contra a possível entrada da gigante do varejo em seu mercado.

Em uma série de declarações, os presidentes-executivos das três empresas sinalizaram que a joint venture ainda estava em seu estágio inicial, mas insistiram em que se sentiam compelidos a agir em razão da alta descontrolada nos custos da saúde, que está prejudicando os orçamentos familiares.

Nos Estados Unidos, o custo anual médio de um plano de saúde subsidiado por empregador atingiu US$ 18.764 no ano passado, com alta de 3% ante 2016, e a contribuição média por trabalhador foi de US$ 5.714, com o restante do custo cabendo aos empregadores, de acordo com um relatório da Kaiser Family Foundation.

“A disparada nos custos da saúde é como uma tênia faminta vivendo da economia dos Estados Unidos”, disse Warren Buffett, presidente-executivo e do conselho do grupo Berkshire Hathaway.

Ele acrescentou que sua organização “não chega com respostas para o problema. Mas tampouco o consideramos como inevitável. Em lugar disso, compartilhamos da opinião de que colocar os nossos recursos coletivos a serviço do melhor talento do país poderá, com o tempo, conter a alta dos custos da saúde e simultaneamente aumentar a satisfação dos pacientes e obter melhores resultados”.

Jeff Bezos, fundador e presidente-executivo da Amazon, disse que o sistema de saúde era complexo e que as empresas estavam “encarando esse desafio de olhos abertos quanto ao grau de dificuldade”.

Ele acrescentou que “por mais difícil que seja, reduzir o peso que os serviços de saúde representam para a economia, enquanto melhoramos os resultados para nossos empregados e suas famílias, valeria o esforço”.

Jamie Dimon, presidente-executivo do JPMorgan Chase, disse que os empregados do banco queriam “transparência, conhecimento e controle” ao administrar seus serviços de saúde e que as três companhias tinham “recursos extraordinários” para oferecer serviços que beneficiem os trabalhadores e suas famílias.

As três empresas anunciaram para breve a formação de uma joint venture e indicaram um trio de executivos para comandar o esforço: Todd Combs, executivo de investimentos na Berkshire Hathaway; Marvelle Sullivan Berchtold, diretora-executiva do JPMorgan Chase; e Beth Galetti, vice-presidente sênior da Amazon.

Tradução de PAULO MIGLIACC

Fonte:www.folha.com.br