Sobre OPMEs e corrupção: como andar no pântano sem se sujar

Mesmo que você seja o único em meio a um ambiente de corrupção, como os já conhecidos casos de
falta de ética na utilização de dispositivos médicos implantáveis, mantenha-se no caminho correto. As instituições vão mudar para ampará-loAAEAAQAAAAAAAAOgAAAAJDA1NTI3YmNjLTc5MmQtNGQxMi04YjM1LTk4ZTZlOWJjNmVlZg 6e6a0
Participo de vários eventos do mercado privado de saúde e, nos últimos tempos, tenho sido surpreendido pelos participantes, que inevitavelmente questionam: “como ser honesto e correto em um ambiente onde existem desvios de conduta? E, se eu não entrar na onda, acabo até prejudicando o hospital?”Eles se referem à política de utilização de órteses, próteses e outros dispositivos médicos implantáveis – sempre polêmica. Embora seja imoral, agentes de mercado, segundo consta, oferecem comissões para a inserção de seus produtos nos pacientes durante as cirurgias ou indicação de medicamentos nem sempre necessários.Nos acostumamos com essa conduta por causa do conceito míope do  setor. Com esta postura, vivemos desde os tempos do jurista baiano Ruy Barbosa, famoso pelo discurso no Senado em que diz: “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.” O fato é que as pessoas não se sentem amparadas ao serem honestas, não há um aparato legal e apoio da sociedade que garanta sempre a punição para quem sair dos trilhos.

Mesmo conhecendo todas as dificuldades, a pergunta dos participantes não pode ficar sem resposta. Compartilho, então, o que aprendi na vida: num pântano, é preciso saber andar em cima das pedras, vestindo roupa branca, sem se sujar.

Essa força interna de cada um para escolher o que é certo, independentemente do ambiente em que se está inserido, é o mais importante, mas é óbvio que isso não basta. As instituições devem implementar sistemas que auxiliem na identificação e, também, ter políticas claras, que desestimulem as ocorrências, além de um plano de ação ostensivo para antecipar situações de risco, corrigir e, principalmente, punir os desvios.

Precisamos criar um ambiente em que as pessoas se sintam observadas e avaliadas, onde tudo possa ser medido, não só a produtividade, mas também a qualidade da assistência, o que cada profissional faz e a implementação de mecanismos focados nos códigos de ética, entre outros itens.

Eu ainda me arrisco a dizer que, apesar de vergonhoso, os últimos acontecimentos envolvendo a falta de ética e transparência no mercado tiveram o benefício de trazer à tona um assunto que há muito tempo prejudica o setor e, principalmente, incomoda aqueles que querem trilhar o caminho da honestidade.

Temos acompanhado várias movimentações no setor, com o intuito de inibir essas práticas ilícitas na saúde e, recentemente vi algumas notícias que conduzem a um desdobramento dessa dita  “máfia das próteses”. O tema não é mais tabu e as instituições estão percebendo a necessidade de  estabelecer relações comerciais e profissionais mais éticas, pois só assim será possível melhorar a eficiência e a equidade do sistema de saúde. O momento político vivido no país também contribui para que o debate sobre ética e corrupção esteja mais presente no meio empresarial.

Vai dar certo? Alguma coisa vai mudar?

Encerro esse texto com a certeza de que a resposta para esta pergunta é sim, já estamos mudando. Pode ser que demore cinco, dez, 20 anos, mas o que me faz otimista, é que felizmente há mais profissionais honestos, com vontade de contribuir para uma saúde melhor, do que profissionais corrompidos pelo sistema.

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Fonte: Francisco Balestrin, Presidente da ANAHP
www.anahp.com.br