Start-ups da área de saúde nos EUA levantaram um recorde de US$ 3,9 bilhões (cerca de R$ 12,6 bilhões) em capital de risco no primeiro trimestre de 2015. Só o segmento de tecnologias digitais aplicadas à saúde, o crescimento foi de 56%, comparado ao mesmo período do ano passado.
Embora não existam dados semelhantes sobre o mercado brasileiro, incubadoras e aceleradoras apostam no setor como um dos que apresentam maior potencial de crescimento neste ano de economia desaquecida.
Só no segmento de saúde via dispositivos móveis (como celulares e tablets), a estimativa é que o mercado acrescente US$ 4,6 bilhões (R$ 14,8 bilhões) ao PIB nacional até 2017, segundo pesquisa da consultoria PwC.
Caso esse potencial seja aproveitado, a consultoria estima que o acesso à saúde seja ampliado para 28,4 milhões de pessoas, com economia de US$ 14 bilhões nos custos da área, além de poupar 9% do tempo diário de um médico.
Para Frederico Lacerda, co-fundador da aceleradora 21212, existe uma demanda por soluções melhores no mercado de saúde, marcado pela baixa qualidade nos serviços e pelo atraso em termos de adoção de tecnologia.
A estratégia da start-up Mobilità é a melhoria do SUS. A empresa desenvolveu uma plataforma on-line que integra as informações do Programa Saúde da Família, como vacinas, exames e visitas de agentes comunitários.
Segundo Guilherme Carvalho, 46, um dos fundadores da empresa, 12 cidades já implementaram ou estão em fase de contratação do sistema.
A prefeitura paga R$ 80 por cada agente comunitário que utilizar a plataforma.
Gilberto Ulbrig, da organização de fomento a negócios de impacto Artemisia, também aponta a saúde digital, além da qualificação do SUS, como áreas prósperas para negócios (veja mais abaixo).
Outro segmento promissor é o de apps. “Hoje você consegue pedir um táxi pelo celular, comprar ingresso de cinema, mas não agendar uma consulta”, diz Lacerda.
Ricardo Borges/Folhapress | ||
Bruno Lagoeiro, 28, um dos fundadores da PebMed, na aceleradora 21212, no Rio |
A PebMed, start-up acelerada pela 21212, foi criada em 2012 por Bruno Lagoeiro, 28, e dois amigos, à época estudantes de medicina, com a proposta de criar aplicativos para médicos. O principal é o Whitebook, guia de prescrições, que custa R$ 20 por mês. Em 2014, a empresa faturou R$ 500 mil.
Médicos empreendedores, contudo, ainda são raros. “O meio é muito conservador, parece que antes era feio você querer ter um negócio”, diz o radiologista Bruno Rocha, 29, um dos fundadores da 3DUX, start-up que faz impressão 3D de moldes para planejamento cirúrgico.
A área costuma ser dominada por químicos, biólogos e farmacêuticos.
Para fomentar o empreendedorismo no setor, o farmacêutico Ricardo Di Lazzaro Filho, fundador da start-up de exames de DNA Genera, planeja lançar até o fim deste ano uma aceleradora.
“Nós queremos oferecer uma consultoria de legislação, marketing e estratégia. Existem pesquisadores excepcionais na universidade que podem gerar produtos excepcionais, mas falta um direcionamento de negócio.”
PREMIAÇÕES
O Prêmio Empreenda Saúde, realizado há 14 anos na Europa, está sendo organizado pela primeira vez no Brasil pelo Hospital Sírio-Libanês, em parceria com a consultoria Everis.
Moacyr Lopes Junior/Folhapress | ||
Moldes da start-up 3DUX para planejamento cirúrgico, na sede da empresa, na USP |
O objetivo é identificar bons projetos –algo raro na área, segundo Luiz Fernando Reis, superintendente de pesquisa do hospital. “O que procuramos não é apenas uma ideia inovadora, mas um plano de negócios para colocá-la no mercado.”
As inscrições para o prêmio podem ser feitas até 30 de agosto, pela internet (premioempreendasaude.com.br). O vencedor receberá R$ 50 mil e orientação dos organizadores.
Bruno Rocha, 29, diz que está inscrevendo a 3DUX no prêmio. “É muito interessante você ver que as próprias instituições de saúde estão valorizando empreender. É uma mudança de postura, de cultura.”
O Hospital Albert Einstein já está na quarta edição do Circuito Einstein de Startups. Quatro negócios serão selecionados para se apresentarem na feira Hospitalmed, em Recife (PE).
As inscrições vão até 10 de agosto pela internet (inovaeinstein.com.br).
A PebMed foi uma das finalistas da última edição do programa, em maio. Bruno Lagoeiro, 28, um dos fundadores da empresa, diz que, com o prêmio, conseguiu oferecer uma proposta de parceria para o hospital, atualmente em negociação.
Fonte: Folha de São Paulo