Até então concentradas no SUS e com foco em famílias de baixa renda, as equipes de saúde da família estão chegando aos planos de saúde.
Ao menos dois grupos, as Unimeds e as operadoras de autogestão, já têm programas de medicina da família que ficam responsáveis pelo paciente dentro do sistema.
As experiências são baseadas em modelos de países como Inglaterra, Holanda, Espanha e Canadá. Estudos mostram que 80% dos problemas de saúde podem ser resolvidos por esses profissionais, sem necessidade do uso de alta tecnologia.
Funciona assim: o paciente procura um ambulatório de saúde da família (além do médico, podem contar com enfermeiras, nutricionistas, psicólogas e assistentes sociais) para consulta de rotina ou em situações inesperadas, como crises de sinusite e problemas gastrointestinais.
Pedro Silveira/Folhapress | ||
Jennifer, 8, e sua mãe, Maria de Lourdes Araújo, em consulta de rotina com a pediatra |
É examinado, medicado e, se for caso, encaminhado a um especialista. Depois, recebe um retorno, que fica registrado no prontuário.
A equipe passa a “gerenciar” a saúde do cliente. Telefona, por exemplo, para saber se a pressão arterial ou a glicemia estão controladas.
“É uma espécie de ‘personal doctor'”, resume José Augusto Ferreira, diretor de provimento de saúde da Unimed de Belo Horizonte (MG).
A operadora testa há um ano um projeto piloto, com 1.700 clientes. No período, as idas aos pronto-socorros caíram de 35% para 18%. O paciente também fica com número do celular do médico e pode acioná-lo se precisar.
“Ainda não precisei ligar, mas dá mais segurança para a gente. São mais atenciosos, perguntam mais, não é aquela consulta de cinco minutos”, diz Maria de Lourdes Araújo, que acompanhava a filha Jeniffer, 8, em consulta de rotina, na sexta-feira (25).
“As pessoas que têm planos estão perdidas hoje no sistema, sem direcionamento. Fazem uso excessivo e improdutivo dos serviços de saúde”, diz José Ferreira.
A Cassi (Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil), com 700 mil usuários, tem modelo parecido, porém, mais abrangente. São 65 clínicas no país com equipes de saúde da família.
Pelo menos uma vez por ano, os usuários cadastrados são procurados para agendarem consulta preventiva.
Além disso, também podem ser contatados por telefone para falar sobre possíveis dificuldades com a dieta ou exercícios, por exemplo.
Mas por que iniciativas como essas, consagradas na literatura médica mundial, ainda são tão escassas?
Há várias hipóteses, entre elas a crença de usuários de planos de saúde de que medicina de família é “medicina de pobre” e de que os planos só querem economizar.
Somam-se a ela o desinteresse dos médicos numa especialidade pouco rentável e ainda a própria (falta de) lógica do sistema de saúde, que se concentra nas ações curativas e não nas preventivas.
“Temos que entender que a atenção primária não é menor, que não restringe acesso às novas tecnologias. O foco é antecipar o risco e, quando ele ocorre, encaminhar o paciente aos recursos necessários de forma mais organizada”, afirma Denise Eloi, presidente da Unidas (União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde), da qual a Cassi faz parte.
Fonte: Folha de São Paulo 27/07/2014
Cláucia Collucci