Estado tem cerca de 15 mil leitos desativados e baixa taxa de ocupação. Em evento, secretário de Saúde adiantou investimento de R$ 630 milhões em 17 hospitais
Vou precisar ser muito bem convencido para criar um novo hospital em São Paulo. Nós não precisamos de mais hospitais, nós precisamos de gestão de leitos”, sentenciou o secretário estadual de Saúde de São Paulo, David Uip, em encontro com empresários do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) realizado nesta terça-feira (3). Segundo levantamento realizado pela Secretaria e mostrado pelo infectologista, há 90,3 mil leitos disponíveis no estado e outros 15 mil desativados.
A taxa de ocupação média também é um grande problema: os hospitais pequenos (com menos de 50 leitos) trabalham com ocupação média de 34,5%. Instituições médias (de 51 a 150 leitos) possuem ocupação um pouco superior, de 48%, enquanto os grandes (mais de 150 leitos) ocupam em média 63,2%. Nos hospitais universitários, a taxa sobe para 73,4%, segundo dados apresentados pelo secretário.
Para Uip, que assumiu o cargo em setembro, o principal problema a ser combatido na saúde pública do estado são as filas, mas isso não significa necessariamente acabar com elas ou construir mais hospitais, mas sim reerguer a aprimorar a gestão dos existentes e humanizar o atendimento. Alcançar estes objetivos “já será um grande gol”, disse.
Parte dessa nova gestão passa por uma estruturação do sistema de saúde estadual: Uip adiantou que, na segunda-feira (9), o governador Geraldo Alckmin deve anunciar um plano de R$ 630 milhões para 17 hospitais estaduais chamados de “estruturantes”. O plano inclui a transformação de Santas Casas com número inferir a 50 leitos em Unidades Básicas de Saúde (UBS).
“Estamos propondo uma reestruturação não só com dinheiro, mas dando função às santas casas, que vão fazer papel de UBS. O objetivo é reativar 15 mil leitos parados, e esse número é por baixo, esperamos que sejam mais. Não é possível tolerar o financiamento de um sistema que não tem inteligência”, disse Uip.
Ajudar a alcançar estes objetivos é a principal função do Conselho de Saúde do Estado de São Paulo, formado por Uip com membros da secretaria e de notório saber em saúde (presidido por Adib Jatene), além de “não só empresários, mas empresários de sucesso, que entendam de gestão”. Principal tema de pauta: iniciativas e mudanças na gestão pública de saúde versus formas de financiá-las.
“Estamos formulando uma nova infraestrutura administrativa para a Secretaria. Perco cerca de três horas por dia despachando. Sou obrigado a assinar afastamento de médico que vai para um congresso no interior”, desabafou Uip ao mencionar mudanças na gestão da pasta que comanda. “Estamos fazendo revisão de todas as políticas e integrando sistemas.”
Uip também salientou a importância das organizações sociais de saúde (OSS) para a gestão dos hospitais do Estado, e lembrou das parcerias público-privadas (PPPs) para três hospitais anunciadas em outubro: Hospital Estadual de Sorocaba, Hospital Estadual de São José dos Campos e o Centro de Referência na Saúde da Mulher (novo Pérola Byington).
Reduzir filas também pode significar ampliar os Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMES): dez delas funcionam aos sábados e a expectativa é implementar o “terceiro período”, ou seja, funcionamento noturno, para diminuir a espera por exames. “Espero chegar no ano que vem funcionando nos domingos. Não me faltam equipamentos, falta entender o porquê das filas”, ponderou Uip.
Problemas e rivalidades
Apontado como reação do governador tucano Geraldo Alckmin à popularidade crescente do ministro da Saúde, Alexandre Padilha – provável candidato do PT ao governo de São Paulo -, Uip substituiu Giovanni Guido Cerri, de perfil mais técnico, à frente da secretaria. Durante encontro do Lide, Uip não se furtou a criticar o governo federal.
“Não tenho nada contra mais médicos [referindo-se ao programa federal de alocação destes profissionais, inclusive estrangeiros, em áreas consideradas carentes], nem contra médicos de outros países. Temos médicos de vários países em São Paulo há muitos anos. O que acontece é que tem que seguir a lei. Salário não pode ser bolsa. Quero pagar direitos trabalhistas”, disse.
Também externou preocupação com o objetivo do governo federal definido como a “municipalização do ensino médico”. “Criar faculdades em tudo quanto é cidade é muito sério. Não vai dar certo. É preciso formar médicos com gabarito, ter projeto pedagógico”, disse.
O secretário criticou ainda a condução dos programas de saúde do governo federal (“Hoje 83% dos pacientes que estão nos pronto socorros deveriam estar na UBS. Há uma inversão na cadeia de encaminhamento no País.”) e da tabela do SUS, deficitária com relação ao custo real da maioria dos procedimentos realizados.
“Suspeite do hospital do SUS que tiver com as contas em dia. É absolutamente impossível”, disse. “Esta conta não fecha.” Uip também disse que os “municípios estão quebrados”, e que o governo federal tem reduzido anualmente sua participação no custeio da saúde nos estados e municípios. “Como vocês devem imaginar, não ando de bom humor com o Ministério da Saúde”, brincou.