Análise de dados, padronização de coleta, mensuração e compartilhamento de informações são peças-chave para uma mudança no setor .
Hoje, não apenas o Brasil debate as mudanças necessárias para implementação de um sistema de saúde baseado em valor, grandes empresas globais também estão pensando em produtos e soluções que auxiliem o setor nessa transição. Obter melhores resultados, com menores custos e tendo o paciente no centro desse sistema exige que todos os atores da cadeia de saúde estejam engajados em melhorar e modificar processos. A revista Panorama conversou com o diretor da área de Saúde Baseada em Valor (VBHC) da Medtronic na América Latina, Jason Arora, para entender como o mundo está se transformando para adotar o modelo VBHC e qual o papel das empresas de tecnologia médica nesse contexto. Confira a seguir a conversa com o executivo.
“VBHC significa oferecer os melhores resultados possíveis, centrados no paciente, com os menores custos possíveis.
O que é Saúde Baseada em Valor (VBHC) e qual sua importância para o setor? Jason Arora: A VBHC significa oferecer os melhores resultados possíveis, centrados no paciente, com os menores custos possíveis. Em outras palavras, significa maximizar os resultados dos pacientes para cada dólar gasto. Os sistemas de saúde têm recursos limitados ou – quando dinheiro é gasto – os resultados não melhoram previsivelmente. Portanto, para garantir qualidade e acesso contínuos aos cuidados de saúde, precisamos vincular resultados a custos/recursos, e o VBHC é uma maneira de fazer isso. Quais são as principais estratégias e recursos necessários para adotar esse modelo? Arora: Medir resultados e custos, gerar dados do mundo real e usá-los para remodelar os sistemas de saúde. Isso envolve parcerias entre diferentes partes interessadas na área da saúde e requer profundo envolvimento, investimento e engajamento de todos os níveis das instituições. Deve ser uma transformação de verdade – de dados e TI, da cultura clínica e do gerenciamento. Qual a importância dos padrões de coleta de dados e informações dos pacientes no VBHC? Arora: Dados de pacientes de alta qualidade, manipulados com o máximo cuidado em relação à privacidade dos dados e alinhados com os mais altos padrões de conformidade, são a verdadeira base na qual o VBHC precisa ser construído. Qual é o cenário atual em relação à adoção de novos modelos como o VBHC nos Estados Unidos? E no cenário global? Arora: O ambiente político e de pagamento nos Estados Unidos avançou para impulsionar ativamente o VBHC há alguns anos, especialmente com o Patient Protection and Affordable Care Act (PPACA), e, desde então, foi sendo implementado, tanto na gestão do ex-presidente Barack Obama, quanto na de Donald Trump. Em termos gerais, o engajamento e a adoção de modelos de VBHC têm aumentado ano após ano. Globalmente, as economias mais avançadas já trabalham seus pontos de atenção, como por exemplo a Suécia, que trabalha o cuidado integrado, e os Estados Unidos, com a análise de dados. PERFIL Já as economias emergentes e em desenvolvimento estão começando a entender a importância e o potencial do VBHC em sua busca pelo Universal Health Coverage (UHC) [proposta da Organização Mundial da Saúde para uma cobertura universal em saúde]. Quais são os imperativos para tornar o modelo VBHC uma realidade no sistema de saúde no Brasil? Arora: Posso listar alguns: 1. Apoiar a medição de resultados, geração de dados, compartilhamento de dados e benchmarking em redes de hospitais. Ordene essa medição para facilitar o desenvolvimento de registros de dados de resultados regionais e nacionais. Sendo, o ideal, que isso seja liderado por sociedades médicas; 2. Fornecer incentivos incrementais para a participação nos programas VBHC, até o pagamento baseado em valor. Os contribuintes precisam assumir a liderança aqui; 3. Padronizar caminhos de atendimento integrados, para facilitar o aprendizado; 4. Investir em equipes e programas da VBHC – dentro e entre as partes interessadas (por exemplo, um pagador pode investir na coleta, compartilhamento e análise de dados em um grupo de fornecedores); 5. Comece pequeno e comece com exercícios de melhoria da qualidade; 6. Incentivar parcerias público-privadas. Como o Brasil pode aprender com as práticas de outros países? Arora: Tem algumas maneiras, por exemplo, adotando métricas de resultados, como o consórcio ICHOM, e registros internacionais de desfechos. Utilizar exemplos internacionais de vias de atendimento integradas também é uma opção. Além de poder seguir modelos de pagamento baseados em valor que já existem, como dos Estados Unidos e da Europa, que possuem diferentes condições médicas e de vários formatos. Quais são as maiores barreiras ao adotar esse modelo? Arora: Existem muitas barreiras, como sistemas fracos de dados/TI, cultura clínica, carga administrativa, incentivos ruins, comportamento organizacional, desalinhamento das partes interessadas e falta de confiança, falta de transparência, entre outros. Muitas vezes, de fato, há resistência também das partes interessadas. No entanto, essas barreiras são endêmicas no setor de saúde – elas não estão especificamente relacionadas ao VBHC. Como fazer o diálogo acontecer entre as partes interessadas? Arora: Comece alinhando os KPIs [indicadores de performance] no setor – o que cada área interessada está tentando alcançar. Essa parte é realmente muito fácil – todos estamos tentando obter os melhores resultados possíveis para os pacientes e todos tentando fazer isso da maneira mais eficiente possível, usando o menor número possível de recursos. Qual é o papel da Medtronic e das empresas de tecnologia médica nessa implementação? E o que está sendo feito no Brasil? Arora: A tecnologia pode desempenhar um papel significativo na geração de valor nos sistemas de saúde. A Medtronic – como a maior empresa de tecnologia médica do mundo – está se concentrando em como podemos fazer isso. Estamos em parceria com pagadores e fornecedores para oferecer os melhores resultados possíveis com o menor custo possível por meio de tecnologia e modelos de pagamento baseados em valor, de modo que uma tecnologia possa gerar valor quantificável em um sistema de saúde. No Brasil, estamos executando algumas iniciativas com fornecedores e pagadores públicos e privados para gerar essas provas de conceito. Trabalhamos profundamente o VBHC há vários anos, tanto no Brasil, quanto na América Latina, e adquirimos muita experiência nesse rápido crescimento.
Fonte: Revista ANHP edição 73