Trabalho e qualidade de vida – sim, é possível!

Parceria entre o Hospital Alemão Oswaldo Cruz e a Universidade de Stanford promove uma nova cultura de saúde e bem-estar no ambiente de trabalho. Diferentes atividades e serviços já conquistaram 75% dos colaboradores.

 

Aulas de canto, exercícios, dança, karatê, academia antiestresse, coaching de saúde e bem-estar, oficinas de nutrição saudável, análise ergonômica, cinesioterapia laboral, grupo de gestantes, consultas médicas e de enfermagem, avaliações nutricionais e psicológicas, gerenciamento de condições crônicas de saúde, combate ao tabagismo, palestras. Imagine ter à disposição essas e outras atividades em um só lugar: o ambiente de trabalho.

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Isso acontece no Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), em São Paulo, graças ao Programa Bem-Estar, que visa promoção de saúde e qualidade de vida dos colaboradores. A iniciativa contempla seis dimensões do bem-estar definidos pelo National Wellness Institute: ocupacional, emocional, física, espiritual, intelectual e social.

De acordo com Rodrigo Bornhausen Demarch, gerente de qualidade de vida e saúde do HAOC, em 2009, surgiu a necessidade de estruturar um programa de qualidade de vida ao colaborador e estabelecer uma parceria com evidências científicas. Foi então que ele chegou ao Health Improvement Program (HIP), do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina de Stanford, no oeste dos Estados Unidos, responsável por produção científica e desenvolvimento de programas educacionais na área preventiva.

“O HIP trabalha com os grandes pilares da promoção à saúde, como atividade física, nutrição, gerenciamento do estresse, cessação do tabagismo, espiritualidade e gerenciamento de peso. O que norteia o desenvolvimento de seus programas é a ênfase que existe na ciência comportamental, sendo esse também um dos principais pilares do nosso Programa Bem-Estar e o grande diferencial do que fazemos”, aponta Demarch.

Com 117 anos de história, o HAOC carrega em sua essência o cuidado e a valorização do colaborador. “Temos isso em nosso DNA. Cuidar das pessoas que aqui trabalham é algo não apenas necessário, mas vocacional. É o nosso jeito de ser. Cuidamos de quem cuida e esse é nosso mote. Sendo assim, nada mais lógico do que investir e desenvolver uma área especifica dentro da instituição que possa elevar essa vocação ao mesmo nível da assistência que prestamos aos nossos pacientes e familiares”, considera o gerente.

E o investimento foi alto: R$ 2 milhões, sem considerar o custo operacional do programa, apenas o valor de implantação – a ida à Stanford, o licenciamento de ferramentas e conteúdo – como o Gesto Inteligense, fgerramenta de BI adotada pelo hospital e produzida pela Gesto Saúde e tecnologia –, a consultoria da universidade, a contratação e o treinamento de novos profissionais.

Desafio

Implantar e disseminar uma cultura de bem-estar e qualidade de vida em uma organização é um desafio, um processo de mudança, sensibilização e engajamento que envolve diretoria, lideranças e funcionários. Fazer com que as pessoas permaneçam envolvidas é outra luta. E, para isso, a renovação de atividades e serviços dentro do Programa Bem-Estar precisa ser constante. “É como se tivéssemos que nos reinventar a cada ano. O que deu certo permanece, o que tem potencial é aperfeiçoado e aquilo que não funcionou simplesmente é descartado. É uma construção constante”, revela Demarch.

Um exemplo disso é o Gerar, um grupo criado especialmente para gestantes, que surgiu de forma colaborativa e por demanda de um gestor que precisava de apoio com quatro grávidas no setor. A iniciativa evoluiu e os benefícios foram estendidos às esposas gestantes dos colaboradores. Hoje, ao darem à luz, as participantes contam com um telefone 0800 para tirarem dúvidas, recebem um kit para coleta de leite materno, além de acompanhamento mensal com enfermeira obstetra e avaliação com médico do trabalho para análise de eventuais riscos ocupacionais.

A estruturação e evolução do Programa também gerou a criação de novos espaços: o CASC ganhou 100 metros quadrados de área para comportar mais consultórios e salas de coaching e de apoio à amamentação; a Área de Lazer foi reestruturada, com expansão das salas de musculação e ginástica; o jardim em frente ao prédio mais antigo do hospital foi reformado e transformado no “Bosque Bem-Estar” – com pista para caminhada, bancos para descanso e tablado de madeira (deck) onde são realizadas aulas de yoga e ginástica laboral.

Engajamento

O sucesso do programa e o engajamento de quem trabalha na instituição revelam números animadores. Hoje, 75% dos colaboradores fazem parte do Programa Bem-Estar. Mais de 700 pessoas estão matriculadas na academia, com taxa de frequência entre 85% e 90%. E, nos últimos quatro anos, mais de 90% dos funcionários preencheram o questionário do Sistema de Avaliação do Bem-Estar (Sabes) e passaram pela Consulta Bem-Estar, quando o médico discute estratégias para o início do processo de mudança.

Conforme explica Demarch, o Sabes é uma ferramenta trazida de Stanford e utilizada com exclusividade pelo HAOC no Brasil. “Consiste em um questionário baseado na web que coleta dados do indivíduo em relação a hábitos de vida e histórico familiar, assim como avalia sua prontidão para mudança de comportamento. No final, um relatório demonstra como esse estilo de vida impacta positiva ou negativamente na saúde da pessoa.”

Impacto

Pequenas mudanças podem ocasionar grandes impactos – e em todo o sistema. Para se ter uma ideia, em cinco anos, a sinistralidade dos planos de saúde dos colaboradores do HAOC caiu de 84% para 70%. Tal queda permitiu o corte do último reajuste anual desses planos, o que resultou, por si só, em uma economia significativa para o hospital, cerca de R$15 milhões, já que a média de reajuste do mercado foi de 16%.

“Isso foi possível porque nosso Programa faz a gestão de saúde populacional, com gerenciamento de casos crônicos e de alto custo. Todas essas ações conjuntas acabaram refletindo na sinistralidade”, ressalta o gerente de qualidade de vida e saúde.

Reconhecimento

O profissionalismo e a consistência das atividades desenvolvidas dentro do Programa Bem-Estar ganharam o reconhecimento de dois prêmios: o Prêmio Nacional de Qualidade de Vida, na categoria Ouro, concedido pela Associação Brasileira de Qualidade de Vida, no Ciclo 2012; e Prêmio Saúde, na categoria Saúde nas Empresas, concedido pela Editoria Abril em 2013. “Esses prêmios são o reconhecimento externo do trabalho que internamente já era extremamente valorizado”, finaliza Demarch.

Por Maristela Orlowski, freelancer da Healthers

Fonte: Revista Healthers – Apaixonados pela Saúde – Edição outubro 2014