Dentista em UTI pode reduzir infecções respiratórias

Chances do desenvolvimento caem 56% com presença de ortodontista, mostra estudo realizado na UTI do HC da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP

Ter um dentista atuando em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pode reduzir em até 56% as chances do desenvolvimento de infecções respiratórias nesses pacientes. Esse foi o resultado de estudo realizado com 254 pacientes adultos, internados na UTI do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP. O estudo integrou à equipe da UTI um cirurgião-dentista, prestando cuidados semanais aos pacientes.
Segundo o professor Fernando Bellissimo-Rodrigues, do Departamento de Medicina Social da FMRP, um dos principais responsáveis pelo estudo, as bactérias que causam infecções respiratórias hospitalares muitas vezes migram para os pulmões a partir da cavidade bucal. Pacientes em UTI, entubados ou não, habitualmente recebem da equipe de enfermagem cuidados de higiene oral básico, por meio da limpeza mecânica da boca e aplicação de antisséptico a base de clorexidina.

No estudo realizado no HCFMRP, foram introduzidos serviços profissionais avançados de um dentista. Além da higiene básica, metade dos pacientes, 127, recebeu, de 4 a 5 vezes por semana, conforme a necessidade de cada um, tratamentos bucais avançados como: remoção de tártaro, restauração de cárie, raspagem da língua, escovação dos dentes e até extração dentária. Enquanto a outra metade, outros 127, chamado grupo controle, recebeu apenas a higiene básica.

Evolução Clínica
Os cuidados foram prestados durante todo o tempo de internação na UTI, que variou de 48 horas até 49 dias. Todos foram seguidos até a alta médica da UTI, diz o pesquisador, e ao final “essa mudança na rotina melhorou os resultados com relação à vulnerabilidade dos pacientes nesse cenário”. Ao comparar os resultados da evolução clínica dos dois grupos, o estudo revelou que aqueles que receberam tratamento odontológico avançado apresentaram uma incidência de infecção respiratória de 8,7%, contra 18,1% no grupo controle, o que equivale a uma redução de 56%, produzida pelo tratamento odontológico.

As infecções hospitalares são hoje consideradas um dos maiores problemas de saúde pública em todo o mundo. E as infecções respiratórias são as mais frequentes, principalmente afetando pacientes em tratamento em Unidades de Terapias Intensivas. Dados da literatura médica mostram que de 34,5% a 50 % dos pacientes que contraem pneumonia associada à ventilação mecânica (equipamento comum em UTI) não sobrevivem.

Os resultados obtidos no estudo realizado no HCFMRP mostram a importância de incluir o trabalho de um profissional a mais, no caso o cirurgião-dentista, na rotina desses serviços hospitalares. “É a garantia do maior controle dessas bactérias causadoras das infecções mais comuns nas UTIs”, garante o pesquisador. Os resultados da pesquisa foram publicados na edição de novembro deste ano da revista Infection Control and Hospital Epidemiology, editada pela Society for Healthcare Epidemiology of America.

Esse trabalho foi objeto do estudo de pós-doutorado da cirurgiã-dentista Wanessa Teixeira Bellíssimo Rodrigues, orientado pelos professores Roberto Martinez e Fernando Bellíssimo-Rodrigues, e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência (Faepa) do HCFMRP. O estudo contou ainda com o apoio da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, da Farmácia Industrial e do Centro de Terapia Intensiva para adultos do HCFMRP.

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Autor: Rita Stella
Fonte: Agência USPPublicado em 24 de Novembro de 2014 às 15h31